CLUBE SETE DE SETEMBRO E UM PIANO DE CAUDA NA NOITE CATANDUVENSE
Pesquisa e texto de Nelson Bassanetti
O Clube Sete de Setembro, que tinha sede na Rua Brasil, esquina com a Paraíba (Onde funcionou a Casa Facci), foi palco de fatos que marcaram a vida do Catanduvense. Ele foi fundado em 1917 e, em seus salões, vários sócios trataram da criação do município, cuja instalação lá ocorreu em 14 de abril de 1918 e foi presidida pelo Dr. Lafayete Salles, então Juiz de Direito da Comarca de S.J. Rio Preto. Nesse dia, Vila Adolpho passou a se chamar Catanduva e tomou posse a primeira Câmara Municipal com seis vereadores: José Pedro da Motta, Adalberto Bueno Netto, Francisco de Araújo Pinto, Dr. Nestor Sampaio Bittencourt, os coronéis Joaquim Delfino Ribeiro da Silva e Ernesto Ramalho, sendo o primeiro escolhido Presidente da Câmara e o segundo Prefeito Municipal. Um ano após, ali foi tratado da elevação do município para comarca, cuja instalação ocorreu em 07 de fevereiro de 1920, sendo o primeiro Juiz o Dr. Raimundo Cândido de Mergulhão Lobo e o primeiro Promotor o Dr. Adalberto Luiz da Silva Exel. Durante a gripe espanhola, sua sede foi transformada em um hospital, sendo ali os doentes recolhidos e tratados. Nesse lugar resolveu-se empreender duas grandes obras que impulsionaram nossa cidade: o Ginásio do Estado e o Hospital Padre Albino.
Era o ponto de reunião e de dança dos Catanduvenses e foi palco de vários eventos significativos. Passaram por ali os pianistas Enzo Soli, Aurélia Vergara, Antonio Munhoz, Fioravante Testa, Adolpho Tabacow, Mário Rosa, Célia Borges e Oscar da Silva; os violinistas Pery Machado, Orsini de Campos, Raul Laranjeira e Zaccaria Autuori; o tenor Reis e Silva e a soprano Carmen Gomes. Fizeram conferências: Jorge Amado (Gabriela, cravo e canela, Dona Flor e seus 2 maridos), José Lins do Rego (Menino do engenho, Fogo morto), Agripino Griecco (Ânforas, poesias e prosas brasileiras), Antonio Calandriello e Ramayana Chevalier (esses dois últimos a mando do governo de Getúlio Vargas, através do DIP-Departamento de Imprensa e Propaganda), cujas palestras cultuavam o civismo e a brasilidade. Ramayana Chevalier, escritor amazonense, ficou aqui uns 10 dias e deleitava com sua flama a platéia sequiosa de saber sobre a Amazônia. Ele era pai da atriz/jornalista Scarlett Moon, falecida recentemente e que foi esposa do cantor Lulu Santos.
Na presidência do Sr. Antonio Martins Duarte (dono da Casa Duarte), o Clube adquiriu um piano de cauda da marca “Essenfelder” e em 31 de dezembro de 1936 (Noite de São Silvestre), tivemos a apresentação do violinista Zaccaria Autuori, que tocou Sonata de Corelli, Berceuse de Grieg, Ave Maria de Schubert, Capricio de Florillo, Minueto de Mozart e Capricio de Wieniawsky, acompanhado ao piano por Dona Domitilla Machado de Ávila. Esse piano fez história em nossa cidade, ora tocado por Dona Domitilla, ora por Dona Apparecida Ninno, ou por Dona Maria Fortes Mestrinelli. Seus carnavais marcaram época, quando se evidenciava a presença de casais de foliões, indo seus bailes até sete ou oito horas da manhã seguinte. O Clube Sete de Setembro funcionou até 29 de outubro de 1944, quando foi incorporado ao Clube de Tênis, que assumiu seu passivo e recebeu os bens que constituíam seu patrimônio social (móveis, utensílios, piano de cauda Essenfelder, piano armário Leipzig), pagando dois mil cruzeiros, que foram doados em partes iguais à Casa da Criança Sinharinha Netto e à Sociedade São Vicente de Paulo.