O Parque das Américas (6 fotos)
Artigo do Professor Geraldo Corrêa
Em 1915, colonos japoneses plantavam arroz naquela várzea e cobravam duzentos réis para transportar ao seco as pessoas calçadas ou os meninos que gostavam de andar à garupa daqueles trabalhadores sempre sorridentes. Depois, foi jogada ali a primeira terra para secar aquele brejão. Carrocinhas trouxeram terra e levantaram o aterro que seria o corredor para se ir à Estação e ao Central que era o único cinema (Rua Brasil, esquina Rua Rio de Janeiro). Nos dias chuvosos e nos dias de enchente do rio São Domingos, essa casa de diversão não tinha freqüência, e os automóveis de rodas finas, espirravam lama aos poucos “habituées” que se arriscavam à travessia. Ano após ano, a água das chuvas levava as pontes e as inúmeras “pinguelas” colocadas no rio. Durante muito tempo, naquele trecho da Rua Brasil fizeram-se aterros, colocaram-se sarjetas, assentaram-se calçadas, mas não adiantava nada, a chuva levava tudo, ficando sempre os “espelhos d’água” molhando os pés dos transeuntes e dificultando a passagem para o outro lado da cidade. Não havia jeito, apelou-se para o “Senhor Eucalipto”, a várzea se transformou num bosque e a terra foi secando. As enchentes vinham de quando em vez, durante a sessão de cinema ou durante o baile do “Clube Sete de Setembro” (onde era a Casa Facci). Muita gente sem querer assistia novamente à fita na segunda sessão por mais trezentos réis, enquanto o baile se prolongava até às 9 horas do dia seguinte, porque a água não baixava e ninguém podia sair do Clube. Faziam-se “vacas” para o automóvel de “sobradinho” de três buracos na capota e para os músicos não deixarem de tocar. A várzea foi secando, os bois e cavalos das carrocinhas deixaram de beber água no espraiamento da Rua Pará e os eucaliptos foram sendo cortados, sendo um aproveitado como poste para a antena da Rádio Difusora. Vieram as pontes de cimento e o aterramento continuou com as chuvas e sem elas. Começaram a surgir os palpites ao governo do município; faça-se ali o Paço Municipal, a Estação Rodoviária, Um grande Clube, Um Hotel, e aí, um Catanduvense opinou: estamos sufocados de calor, a cidade precisa de pulmões para respirar, portanto que se faça ali um jardim. Sim. Um grande pulmão. A idéia foi aprovada no Rotary Clube que a endereçou ao Prefeito João Lunardelli e que foi prontamente atendida. E coube ao prefeito Sílvio Salles sanear o varjão, surgiram as pedras portuguesas, o ajardinamento, a iluminação, os bancos, que fizeram daquele local nosso cartão de visitas, embasbacando o forasteiro com sua beleza e passando a ser nosso referencial. Ninguém mais monta em japonês para ir ao Central. Vai-se de “V8” ou ônibus. E concluía: Ficou tudo tão bonito, mas eu tenho mais saudade no tempo da várzea inundada. Saudade do tempo de infância. Achava graça da dentuça do japonês que plantava arroz no brejo. Gostava de ver gente quebrando os “espelhos” do aterro e de ver o esbravejamento dos “almofadinhas” quando suas calças estreitas ficavam respingadas de lama. Não havia filas no Central e só se pagava 300 réis. . . Bons tempos aqueles! . . . Respirava-se melhor. . .
E para nós, olhando tudo isso, só restaram a lembrança e a saudade daquela preciosidade.
O texto é do professor e jornalista Geraldo Corrêa (Pseudônimo Carrêgo):
Pesquisa de Nelson Bassanetti no Jornal “A Cidade” de 19.05.1946 – Arquivo Museu Padre Albino