Início          Caramanchão da Praça da República
Educação - 22/06/2019

Caramanchão da Praça da República

Edgar Ferreira

Pouco me importa a Catanduva envelhecida dos arranha-céus de agora, e muito menos me importa que se engaje hoje nos Setenta e seis! (escreveu em 1994). O que me invoca e me toca mesmo é a Catanduva das ruas calmas, de terra pisada onde eu rolava em menino nas lutas contratadas dentro das salas do Grupo Escolar! Pouco me importa a Catanduva das torres de rádio, de televisão, dos ônibus de mil toneladas, urbanos ou não, que cortam a cidade, as estradas,  se juntando seus ruídos aos barulhos das motocicletas tão velozes, quanto diabolicamente atrevidas, agradam aos ouvidos de alguém !

Quero minha Catanduva, da qual sou filho adotivo, com a mesma paixão com que vi na infância, o sino da Matriz dobrando à partida eterna de alguém, a palavra ameaçadora do sacerdote vinda do púlpito nas noites de reza (eu agarrava a mão de minha mãe e tinha medo), a lembrança de rodar o pião na calçada de terra batida, as caçadas nos cafezais fecundos que, como uma coroa verde de louros envolviam a cidade calma e serena! Revê-la com o céu multicor dos papagaios que eu fazia com o Mandrake para depois vendê-los por ali.

Quero sonhar com as casas barrocas  que já se foram, de forro e janelas de cedro onde eu, sentado na soleira da porta, cortava a dentes, a sobra do nó dado no cabresto do meu cartola!

Quero revê-la agitada com a chegada do circo e a banda de instrumentos reluzentes descer, em cadência de guerra, a Rua Brasil a som de “Dois Corações”, e depois, e depois quando acabava o espetáculo do circo, eu sair por baixo da bancada para olhar as pernas das moças incautas, indiferentes!

Quero voltar no tempo e, como num passe de mágica lembrança, tornar a ver o Cine República da minha infante Catanduva, com suas frisas, suas cadeiras junto à cabine de projeção onde nos agarrávamos com nossas namoradas até ...  até a fala implicante do guarda da ronda!

Que me importa se ela tem hoje motéis de alto luxo, de executivos, de encontros furtivos, senão vejo mais os bordéis da minha mocidade lá na Rua Pernambuco, onde ao som dos tangos de Gardel, dos corridos mexicanos eu e o Zé Marcos ficávamos, madrugada adentro, inebriados pelo perfume das mariposas de então.

O que eu quero mesmo, e juro, é que se levante aqui, em um lugar qualquer, ao invés de construções de rígida frieza e a exemplo da eterna Jerusalém, um muro de lamentações para que eu possa chorar, de verdade, o gesto bruto de um prefeito insolente quando mandou arrancar as Palmeiras Imperiais do jardim primitivo, que irreverentemente pôs abaixo, o caramanchel de primaveras azuis, onde os enforcadores de aulas do ginásio, talabarte desafivelado e deitados por sobre as pedras frias da murada, contavam lorotas, garganteavam de suas pretensas conquistas!

Que me importa o progresso. O progresso é a paisagem dos que estão por vir. O que me importa mesmo é debruçar-me sobre o mesmo muro e depois verter lágrimas de angústia ao relembrar das antigas ruas largas, sem calçadões, sem mendigos esparramados estendendo às mãos, sem legiões de bilheteiros, de vendedores de bingo, sem barracas de quinquilharias.

Ah, se no lugar das pontes de concreto eu pudesse passar novamente por sobre as antigas estruturas de madeira, sobre as pinguelas do rio que corria ainda a rés do chão e beber de suas águas virgens – virgens, como as doze virgens das lâmpadas de São Mateus, se eu pudesse !

Pouco me importa se Catanduva em envelhecendo no calendário do tempo rejuvenescesse na seiva do progresso ...  pouco me  importa!

Livro “Recordações de Catanduva  ... e outras estórias” (Crônicas) de Edgar Ferreira (1996)

 

Veja também:
Esportes - 01/07/2025
Arquibancadas do Estádio Sílvio Salles
Carnaval - 01/07/2025
1975 - Carnaval de Catanduva
Sociedade - 29/06/2025
Juninão do Clube de Tênis
Sociedade - 24/06/2025
Família Rubiano
Educação - 22/06/2025
Formatura do Curso primário do Barão do Rio Branco
Sociedade - 21/06/2025
Reunião social
Sociedade - 21/06/2025
Foto em família
Esportes - 19/06/2025
Catanduva Esporte Clube
Publicações da seção Educação

22/06/2025
Formatura do Curso primário do Barão do Rio Branco
12/06/2025
1981 - Formatura FAECA fotos)
04/06/2025
Lions Clube e Legião Mirim
01/06/2025
Aula inaugural da Fameca
31/05/2025
Ginásio Dom Lafayette
31/05/2025
Curso de Direito da Fafica
26/04/2025
1959 - Classe do Segundo Cientifico do Barão do Rio Branco
07/04/2025
Ginástica no Ginásio Catanduva
06/04/2025
A identificar a Escola e Professores
06/04/2025
1972 - Inauguração de Escolas
04/04/2025
Professor Paschoal Turatto
02/04/2025
1971 - Aprovados Fameca
Catanduva Cidade Feitiço © 2025 Todos os direitos reservados.