SÍLVIO DE ABREU, AUTOR DE TELENOVAS - EXPERIÊNCIA ARTÍSTICA EM CATANDUVA
Nelson Bassanetti
Sílvio de Abreu, apesar do sucesso, tem uma vida simples e comum como homem, como cidadão, mas é muito criativo como artista. Quando escreve, deixa sua cabeça ir embora e viaja nas asas da fantasia e voa livre no céu da imaginação.
Carreira Artística
Sílvio de Abreu teve uma infância pobre, mas não miserável, sua diversão predileta era ir ao cinema e ler história em quadrinho, queria gritar “Shazan” e virar o Capitão Marvel. Tinha inclinação artística e era incompreendido pela família, pois quando comentava que queria trabalhar no cinema, eles zombavam: Só se for para ser lanterninha. Queria entrar na tela. A idéia da felicidade colorida dos musicais, onde se canta e se dança em cenários impecáveis, por ruas limpas e bem iluminadas, habitadas por pessoas bonitas, sempre bem vestidas e elegantes, preencheu toda a sua infância. O problema era que a realidade à sua volta pouco tinha de felicidade, nada de fantasia e muito menos de elegância e descobriu depois que vivia em um cenário de filme B, preto-e-branco.
Queria ser ator como Burt Lancaster (galã americano dos anos 40/50) e cursou a Escola de Arte Dramática de São Paulo. Em 1966, seu irmão Ubaldo, trabalhando na Pan American Airways, ganhou uma passagem para Nova York, Londres, Roma e Paris, com direito a acompanhante e o levou. Com pouco dinheiro viviam em hospedarias baratas o e o programa era cinema, teatro e museu e em Paris passando fome chegou a pesar 53 quilos. No retorno, ficou em Nova York, morando por um ano no apartamento de um amigo onde dormia na cozinha. Lá frequentou como ouvinte o curso do “Actor’s Studio” e para se manter, foi empacotador de supermercado. Voltou ao Brasil acreditando no triunfo, mas como ator só fez papéis pequenos no teatro e quase sempre ficava desempregado, não engrenava. Na fase pré-adolescente aqui em Catanduva já montava e dirigia espetáculos e não se alertou que estava talhado para ficar nos bastidores do que se expor nos palcos ou em frente de câmaras. O convívio com pessoas influentes do meio cultural o direcionaram. Antonio Abujamra falou que ele não era ator, não tinha talento e o ajudou a desvendar o mundo do entendimento de um texto, da importância de cada autor, da direção de atores, da marcação no palco e do valor da iluminação em um espetáculo. Ademar Guerra o orientou para se fixar numa única atividade, ajudou-o a se descobrir e mostrou-lhe o prazer de não estar em cena, mas de criar a cena, nunca esquecer o prazer, não ter medo de ousar, trilhar novos caminhos, misturar influências, assumir o seu gosto pessoal e nunca investir em um trabalho apenas para agradar os outros. Carlos Manga lhe ensinou como colocar uma câmera, como ligar uma cena à outra, como dirigir um ator para a câmera, como escalar, como raciocinar cinema e, principalmente, como fazer um roteiro. Aí entrou na fase cinema, ficando uns oito anos dirigindo filmes. Começou a trabalhar no meio artístico em 1964, mas só deslanchou e conseguiu fazer cinema depois de dez anos e televisão depois de mais oito anos, quando passou a escrever para a Rede Globo.
A hora do trem passar
A busca do sucesso, da realização profissional, faz parte do gênero humano e todo mundo espera embarcar no trem certo e vencer na vida. Para Sílvio de Abreu, o comboio nunca chegava e parecia ter se perdido numa curva, até que um dia começou a escrever, depois dirigir, e foi então a hora do danado aparecer como se estivesse sempre ali, na virada da curva, esperando o momento certo. Esperou muitos anos na plataforma da estação e finalmente conseguiu embarcar, entrando pela porta da frente da TV Globo, desfrutando honras e glórias. Não precisava mais esperar, indefinidamente, nas poltronas da portaria, suas velhas conhecidas. E, espelhando nas biografias montadas por roteiristas de Hollywood ao contar histórias de artistas que chegam ao sucesso para ele o trem veio majestoso para o primeiro plano da tela, entraram os trilhos, a fumaça, as rodas e apareceram os cartazes sobrepostos dos filmes, trechos e nomes de novelas, o reconhecimento e agora definitivamente ele está sentado no vagão de primeira classe que é o ápice e a glória suprema.
Ele diz que ser otimista sempre faz bem e ajuda a vencer os obstáculos. Quando a oportunidade chegar, é preciso estar preparado, é preciso confiar, não ter medo, seguir sempre em frente, acreditando que a sorte vai estar ao seu lado, mesmo que pareça que ela já tomou outro rumo. Devemos ter esperança e acreditar que quando esses elementos se juntam, tudo avança e o trenzinho acaba chegando.
Pesquisa no livro “Um Homem de Sorte” de Vilmar Ledesma, Arquivo Museu Padre Albino.