PUSERAM FOGO NA ESTAÇÃO DA SÃO PAULO NORTE (5 fotos)
Nelson Bassanetti
Estamos falando do ano de 1919, quando a poeira cobria a luz solar e os carros de boi, troles e os primeiros Fordecos de cajado alto serpenteavam pelas nossas ruas e estradas. Naquele tempo, a ferrovia São Paulo Norte, era deficiente e não correspondia aos anseios da cidade. Seus comboios atrasavam e descarrilamentos eram freqüentes. Os cereais e outros produtos ficavam expostos nas plataformas, aguardando embarques, apodrecendo, sem vagões suficientes. Os empregados, além de mal remunerados, recebiam com atraso. Diante desses fatos, a 1º de outubro daquele ano, os ferroviários entravam em greve. A região desejava que a estrada fosse encampada, mas o Governo do Estado precisava ter motivos cabais, a fim de evitar, posteriormente, ações judiciais que a São Paulo Norte intentaria. Os jeitos e arranjos próprios da alicantina política, foram cuidados e maquinados. Assim, a 11 de outubro de 1919, aqui em Catanduva, por volta das 10 horas, duas bandas de música regidas pelos maestros Antonio Rutta e Aristides de Mello, garbosas, desceram a Rua Brasil executando alegres dobrados, acompanhadas por grande massa popular, que fazia subir aos ares inúmeros rojões de varetas. O cortejo dirigiu-se à Estação da Estrada de Ferro, que se situava no mesmo local onde existe a atual. Ali, depois de inflamados discursos, usaram-se bananas de dinamite e depois querosene, ocasionando o incêndio e a destruição da Estação, seguindo-se o de outros veículos, que estavam no pátio inclusive um de passageiros. Antes porém, foram retirados os móveis e pertences do agente Sr. Artur Cunha, que residia com sua família na própria Estação. Para evitar as providências da autoridade policial, convidaram o Dr. Juvenal de Oliveira Romão, para saborear laranjas na propriedade agrícola do cel. Joaquim Delphino Ribeiro da Silva, Presidente da Câmara Municipal. Este, ignorando o que se tramava, foi, mas ao retornar à cidade notou a fumaça pelos lados da Estação e para lá se dirigiu. Deu voz de prisão a quem empunhava picaretas e machados. Houve intervenção das pessoas representativas da cidade que ali estavam e clamores do povo que assumiu a responsabilidade no sentido de agir coletivo e este teve que se conformar com o fato. Mas deu ciência, do fato ocorrido pelo telégrafo, à cidade de Taquaritinga que comunicou a Regional de Araraquara. O povo começou a se retirar, mas apareceu um orador, o farmacêutico Deocleciano Pegado que inflamou a população que retornou e continuou com os atos destruindo até o aparelho telegráfico usado na comunicação. O Dr. Juvenal, irritado pela enganação e pelo acontecimento, abriu inquérito policial denunciando cerca de quarenta Catanduvenses participantes do ato e entre eles estavam os dois maestros. O causídico Dr. Renato Bueno Netto apresentou por escrito a defesa dos acusados, o Promotor Público Dr. Adalberto da Silva Exel opinou pela impronúncia dos apontados e o Juiz de Direito, Dr. Raimundo Cândido de Mergulhão Lobo, confirmou o parecer do Promotor e determinou o arquivamento do processo.
O Governo do Estado, como se esperava, encampou a ferrovia, que passou a ter o nome de Estrada de Ferro Araraquara, voltando à ativa em lº de novembro de 1919. O proprietário da São Paulo Norte, Sr. Paulo Deleuze, inconformado, contratou não menos que Rui Barbosa, o “Águia de Haia” para defendê-lo. Consumada a encampação, foi proposta ação de indenização contra o Estado, processo que se arrastou por 25 anos.
Fotos do arquivo do facebook - Pesquisa em artigos de Carlos Machado – Arquivo Museu Padre Albino